A necessidade de troca entre indivíduos sempre existiu no mundo. Quando o homem deixou de ser nômade e se estabeleceu em sociedades de cultivo e criação de animais, nasceu a necessidade de trocar o excesso de um produto por outro, tanto dentro das comunidades quanto entre comunidades, pois cada sociedade tem particularidades de consumo diferentes dependendo de sua geolocalização. Quando um produto não tinha o mesmo valor que outro para fazer a troca direta, ou quando alguém queria um bem ou produto e não tinha algo de mesmo valor para troca, surgiu a necessidade de um bem que pudesse ser fracionado e quantificado frente a produtos de maior ou menor valor. Isso facilitou as trocas, já que o dinheiro, ou moedas de ouro, prata e bronze na época, podiam ser aceitos em quantidades diferentes para produtos diferentes, podendo ser fracionados dependendo do valor da troca.
Os Sumérios e a Invenção do Dinheiro
Os sumérios, fixados na Babilônia e na Assíria por volta do quinto milênio a.C., tiveram um papel importante na história da moeda ao criarem um cálculo baseado em valores de referência constantes. Graças a esse povo, o ouro e a prata tornaram-se unidades de medida de preço, embora não circulassem e permanecessem nos templos. Ou seja, os sumérios inventaram o dinheiro, mas não a moeda. Neste estilo de mercado não se tinha a moeda para troca, mas haviam valores demarcados para cada produto baseado na cotação das moedas do tempo, 1 kg de trigo vale X moedas, conforme a cotação pré estabelecida.
Na China do período Chou (1122-256 a.C.), surgiram as moedas de bronze com formas variadas, como peixe, chave, faca, machado, concha e a mais famosa, o Bu, que tinha a forma de uma enxada. Essas moedas traziam gravados o nome da autoridade emitente e seu valor. No final desta dinastia, surgiu o ouro monetário (Yuanjin), em forma de pequenos lingotes com o sinete imperial. Também nessa época, surgiram as moedas redondas de bronze com um furo quadrado no centro.
Os primeiros registros da utilização do papel como moeda são na China. As matrizes para a impressão eram confeccionadas em tabuleiros de madeira ou bambu, sobre os quais era aplicada uma pasta especial, feita de polpa vegetal amolecida e batida. Essa invenção permaneceu escondida durante séculos, com sua importância exemplificada pelo fato de os chineses terem erguido um templo em homenagem ao inventor dessa técnica. Missionários cristãos espalharam a novidade em outras terras, mas foi o comerciante veneziano Marco Polo que mais se encantou com a técnica de fabricação do papel-moeda chinês.
A moedagem romana começou dois séculos mais tarde do que as das cidades da Magna Grécia, que já cunhavam belíssimas moedas. No século IV a.C., enquanto as dracmas, no mundo grego e principalmente na Sicília, alcançavam o auge da perfeição estilística, em Roma, os animais ainda eram o principal meio de troca. Mais tarde, desenvolveram uma moedagem excepcional em termos de continuidade e variedade, utilizando quase todos os metais.
Por volta de 335 a.C., com o aes grave (bronze pesado), Roma ganhou sua primeira moeda, o as ou asse, fundida em forma redonda, com indicações de valor e impressos oficiais. Na frente dos ases, aparecia Jano bicéfalo, a mais antiga divindade do Olimpo romano, representado com dois rosto. Em 268 a.C., Roma passou a confeccionar também moedas de prata, iniciando a esplêndida era do denário romano.
O Real e Suas Transformações
A história da moeda no Brasil começou com a introdução do real português pelos colonizadores em 1568, usado até 1833, quando o Brasil começou a usar sua própria versão, o réis. Durante o período colonial, além do real português, circulavam moedas estrangeiras, como espanholas, holandesas e francesas, devido à escassez de moeda local, mantendo o escambo como uma prática comum. Em 1694, o real português passou a ser produzido no Brasil, e em 1850, o Banco do Brasil começou a emitir papel-moeda do réis, função que passou ao Tesouro Nacional em 1866. Com a inflação descontrolada, na década de 1920, iniciou-se o planejamento para uma nova moeda, resultando na introdução do cruzeiro em 1942, substituindo o réis para simplificar a contagem de zeros nas cédulas. Esta substituição de moeda continuou como estratégia de controle inflacionário, com transições para o cruzeiro novo, cruzado, cruzado novo, cruzeiro real e, finalmente, o real em 1994, quando 2750 cruzeiros reais passaram a equivaler a 1 real.
real português (1568-1833);
real brasileiro (1833-1942);
cruzeiro (1942-1967);
cruzeiro novo (1967-1970);
cruzeiro (1970-1986);
cruzado (1986-1989);
cruzado novo (1989-1990);
cruzeiro (1990-1993);
cruzeiro real (1993-1994);
real (1994-)."
Substitutos da Moeda
Em tempos de guerra ou hiperinflacão, a moeda pode faltar, e as pessoas precisam substituí-la por outras coisas. Os alemães, após a Primeira Guerra Mundial, emitiram peças de porcelana como moedas devido à falta de metais. Na França, no século XIII, substituíram a moeda por fichas metálicas em que se registravam créditos e débitos. Na Itália, nos anos 70, a moeda foi substituída por caramelos, recebendo o nome de liras caramelo. Em São Paulo, anos atrás, fichas telefônicas, chicletes e balas substituíam as moedas de pequeno valor. Durante a Guerra Civil Americana, selos acondicionados em pequenos discos de papelão, zinco ou couro, recobertos por plástico ou vidro, foram usados como moeda.
Graças à moeda, pode o indivíduo generalizar seu poder de compra e obter da sociedade aquilo que sua moeda lhe dá direito, sob a forma que melhor lhe convém. Classificando uma transação comercial em duas fases, uma de venda e outra de compra, a moeda facilita ambas as partes. Resumindo, é mais fácil ao vendedor de uma colheita achar quem queira comprar parte dela por moedas do que trocá-la por outros produtos.
Instrumentos de Troca Primitivos
Antes do surgimento da moeda, todos viviam à procura de novos instrumentos de troca capazes de medir o valor dos bens. Entre os inúmeros meios de troca já testados antes da criação da moeda, os animais têm lugar de destaque. Na Grécia, no século VIII a.C., faziam-se as contas tomando o boi como parâmetro. Servindo como meio de pagamento, o sal circulava em vários países, como na Libéria. Entre as versões primitivas de moeda, as conchas foram, sem dúvida, as mais difundidas, especialmente os cauris, que nos séculos XVII e XVIII viraram moeda internacional.
Transações na Mesopotâmia
Se pensarmos no dinheiro como algo que nos permite realizar transações, alguns especialistas defendem que sua origem pode estar em gramas de prata ou cevada, cereal que os sumérios da Mesopotâmia comercializavam há cerca de 5 mil anos. Esses produtos tinham valor em si e serviam como unidade de medida para quantificar o valor de outras coisas. Alguns trabalhadores recebiam salários em quantias fixas de cerveja ou móveis. Matérias-primas também tinham valor comparativo. Até comerciantes de longa distância ofereciam crédito uns aos outros. Esse conceito de dívida e crédito levou à quantificação de valores com a invenção da escrita. Existem muitas tabuletas de empréstimos e dívidas na antiga Mesopotâmia, geralmente com juros. O Código de Hamurabi, por exemplo, estabelece a taxa de juros da prata em 20% e a do grão em 33%.
O Impacto da Primeira Guerra Mundial
Antigamente toda moeda senão de ouro, ao menos eram asseguradas por reserva de ouro em bancos centrais que poderiam ser sacados com seu "vale ouro de papel".
A Primeira Guerra Mundial efetivamente encerrou o padrão-ouro internacional real. A maioria das nações suspendeu a conversibilidade livre de moeda papel em ouro. Os Estados Unidos, mesmo após sua entrada na guerra, mantiveram a conversibilidade, mas embargaram as exportações de ouro. Por alguns anos após o fim da guerra, a maioria dos países tinha padrões nacionais de papel-moeda inconvertíveis. A taxa de câmbio entre duas moedas era uma taxa de mercado que flutuava de tempos em tempos.
Deflação e Desvalorização na Década de 1920
Com o aumento dos níveis de preços em todos os países durante a guerra, os países tiveram que escolher entre deflação ou desvalorização para restaurar o padrão-ouro. A Grã-Bretanha, ainda uma grande potência financeira, escolheu a deflação. Winston Churchill, então chanceler do Tesouro em 1925, decidiu adotar a paridade pré-guerra. Isso produziu taxas de câmbio que, aos preços existentes na Grã-Bretanha, supervalorizavam a libra, resultando em saídas de ouro, especialmente após a França optar pela desvalorização e retornar ao ouro em 1928. Até 1929, as moedas importantes do mundo, e a maioria das menos importantes, estavam novamente ligadas ao ouro.
A Conferência e Seus Resultados
Durante a Segunda Guerra Mundial, a Grã-Bretanha e os Estados Unidos delinearam o sistema monetário pós-guerra. Seu plano, aprovado por mais de 40 países na Conferência de Bretton Woods em julho de 1944, visava corrigir as deficiências percebidas do padrão-ouro interbélico. O acordo resultante da conferência levou à criação do Fundo Monetário Internacional (FMI), ao qual os países aderiram pagando uma assinatura. Os membros concordaram em manter um sistema de taxas de câmbio fixas, mas ajustáveis. O FMI começou a operar em 1947, com o dólar dos EUA servindo como moeda de reserva do fundo e o preço do ouro fixado em $35 por onça.
Transição para Taxas de Câmbio Flutuantes
Este colapso do sistema de taxa de câmbio fixa encerrou a obrigação de cada país de manter um preço fixo para sua moeda em relação ao ouro ou outras moedas. Sob Bretton Woods, os países compravam quando a taxa de câmbio caía e vendiam quando subia; agora, as moedas nacionais flutuavam, o que significa que a taxa de câmbio subia ou descia com a demanda do mercado.
A União Monetária Europeia
Logo após o colapso do sistema de Bretton Woods, alguns países europeus experimentaram taxas de câmbio fixas dentro de seu grupo. Em 1991, 12 das 15 nações assinantes do Tratado de União Europeia (Tratado de Maastricht) concordaram com uma década de ajuste em direção a uma moeda única. Em 1995, a nova moeda foi nomeada "euro". Em janeiro de 2002, notas e moedas de euro começaram a circular, substituindo as moedas nacionais como o franco francês, o marco alemão e a lira italiana.
Estrutura e Função dos Sistemas Monetários
Os sistemas monetários domésticos atuais são muito semelhantes em todos os principais países do mundo. Eles têm três níveis: (1) os detentores de dinheiro (o "público"), que compreendem indivíduos, empresas e unidades governamentais, (2) bancos comerciais (privados ou estatais), que tomam depósitos do público e concedem empréstimos a indivíduos, empresas ou governos, e (3) bancos centrais, que têm o monopólio da emissão de certos tipos de dinheiro, servem como banqueiros para o governo central e os bancos comerciais, e têm o poder de determinar a quantidade de dinheiro que é emitida.
Ao longo da história, a moeda passou por diversas transformações, desde simples instrumentos de troca até complexos sistemas financeiros. A desvalorização do dinheiro é um fenômeno antigo, exacerbado pela diluição de metais preciosos nas sociedades abtigas, por ligas de metais, e pela inflação nas socieades modernas, pela impressão de dinheiro nos bancos centrais. Com a evolução das economias e a introdução de novas tecnologias como o Bitcoin, a moeda continua a desempenhar um papel central na facilitação das trocas e na medição de valores. Prevalecendo sempre o ativo de maior raridade e que mais se adequa a necessidade local.
Fontes:
https://monografias.brasilescola.uol.com.br/historia/a-historia-moeda.htm#:~:text=Fixados%20na%20Babil%C3%B4nia%20e%20na,unidades%20de%20medida%20de%20pre%C3%A7o
https://www.britannica.com/money/money/Characteristics-of-monetary-changes
https://www.bcb.gov.br/content/acessoinformacao/museudocs/pub/Cartilha_Dinheiro_no_Brasil.pdf
28/06/2024 - As imagens deste artigo foram geradas com IA.